Imagine ser uma mosca na parede do Vaticano, testemunhando os segredos, intrigas e lutas de poder que definem a escolha de um novo papa. O Conclave (2024), dirigido por Roland Joffé, entrega exatamente essa experiência, transformando o misterioso processo de eleição papal em um thriller psicológico eletrizante. Baseado no romance de Robert Harris, o filme mergulha na tensão humana por trás das vestes escarlates, onde fé, ambição e dúvida colidem. Com um elenco estelar liderado por Ralph Fiennes, Stanley Tucci e Isabella Rossellini, e uma fotografia que faz o Vaticano brilhar como um personagem próprio, O Conclave é uma obra que prende do primeiro ao último minuto. Mas será que ele respeita a complexidade da Igreja Católica ou apenas usa o cenário sagrado como pano de fundo para um drama sensacionalista? Vamos explorar o que faz esse filme tão fascinante e onde ele tropeça.
Nos Bastidores do Poder Eclesiástico
Origens e Promessas
O Conclave se passa após a morte fictícia de um papa, com o Cardeal Thomas Lawrence (Ralph Fiennes) encarregado de liderar o conclave — o processo secreto onde cardeais elegem o próximo líder da Igreja Católica. O filme, adaptado por Peter Straughan, captura com precisão detalhes do ritual, como a queima de cédulas e a fumaça branca que anuncia um novo papa, enquanto tece uma trama de conspirações e revelações chocantes. Lançado em outubro de 2024, o filme arrecadou US$ 116,4 milhões globalmente com um orçamento de US$ 20 milhões, sendo aclamado por crítica e público, com 8 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, e uma vitória por Melhor Roteiro Adaptado.
O que torna O Conclave único é sua habilidade de transformar um processo aparentemente arcaico em um jogo de xadrez político, onde cada cardeal traz suas agendas. A narrativa explora divisões entre progressistas, como o Cardeal Bellini (Stanley Tucci), que defende abertura a questões modernas, e conservadores, como o Cardeal Tedesco (Sergio Castellitto), que deseja um retorno às tradições. Essa tensão ressoa com debates reais na Igreja, mas o filme não se contenta em ser um documentário: ele é um thriller, cheio de reviravoltas que mantêm o espectador grudado na poltrona.
O que Faz Brilhar
A força do filme está em sua execução técnica e atuações. A cinematografia de Stéphane Fontaine transforma o Vaticano em um cenário de tirar o fôlego, com vermelhos vibrantes das vestes cardinalícias contrastando com corredores sombrios, criando uma atmosfera de mistério. A trilha sonora de Volker Bertelmann, com seus acordes graves de cello, amplifica a tensão, fazendo cada votação parecer uma batalha. Ralph Fiennes entrega uma performance magistral como Lawrence, um homem dividido entre dever e crise de fé, enquanto Tucci e John Lithgow (Cardeal Tremblay) trazem camadas de carisma e ambiguidade. Isabella Rossellini, como a freira Agnes, rouba cenas com sua presença silenciosa, mas poderosa.
O roteiro é outro destaque, equilibrando diálogos afiados com reflexões sobre fé, dúvida e poder. Uma fala marcante de Lawrence resume o tom: “Nossa fé é viva porque caminha de mãos dadas com a dúvida. Se houvesse apenas certeza, não haveria mistério”. O filme não tem medo de mostrar cardeais como humanos falíveis, o que o torna acessível até para quem não é católico.
O Conclave na Prática: O que Ele Entrega?
Um Olhar Panorâmico
O Conclave oferece:
- Suspense Político: Uma trama de intrigas, com segredos revelados a cada votação, como subornos e escândalos pessoais.
- Precisão Ritualística: Detalhes como o martelo de prata usado para confirmar a morte do papa e o isolamento dos cardeais são fiéis à tradição.
- Temas Universais: Explora fé versus dúvida, tradição versus progresso, e o peso da responsabilidade, resonando além do contexto religioso.
- Elenco de Peso: Fiennes, Tucci, Lithgow, Castellitto e Rossellini entregam atuações que elevam o material.
- Impacto Visual e Sonoro: Cenários grandiosos e uma trilha sonora imersiva criam uma experiência cinematográfica envolvente.
Na prática, o filme é uma montanha-russa emocional. Cenas como as votações na Capela Sistina, com close-ups nos rostos ansiosos dos cardeais, criam um clima de suspense digno de um mistério de Agatha Christie. As reviravoltas, como a chegada inesperada de um cardeal desconhecido, mantêm o ritmo acelerado.
Exemplos do Mundo Real
Um momento memorável é quando Lawrence descobre um segredo sobre um dos candidatos, forçando-o a confrontar sua própria moralidade. Essa cena, descrita por críticos como “de tirar o fôlego”, reflete o dilema humano de escolher entre verdade e estabilidade. Outro destaque é a explosão literal que interrompe o conclave, simbolizando o caos do mundo exterior invadindo o isolamento sagrado — uma metáfora poderosa, mas talvez exagerada. Esses momentos mostram como o filme usa o Vaticano como microcosmo para questões globais, como polarização e crise de liderança.
Por Que O Conclave Fascina?
Acertos e Escorregões
Pontos Fortes:
- Atuações Impecáveis: Fiennes carrega o filme com uma performance introspectiva, enquanto o elenco de apoio adiciona profundidade.
- Tensão Narrativa: A trama de conspirações e reviravoltas é viciante, com um ritmo que não deixa o espectador piscar.
- Estética Deslumbrante: A fotografia e o design de produção fazem do Vaticano um personagem vivo, cheio de opulência e mistério.
- Relevância Temática: Toca em questões atuais, como o papel da Igreja em um mundo moderno, sem ser didático.
Pontos Fracos:
- Exageros Dramáticos: Algumas reviravoltas, como o final controverso, parecem forçadas e podem alienar espectadores católicos por sua implausibilidade.
- Caricaturas Ideológicas: Conservadores, como o Cardeal Tedesco, são retratados de forma estereotipada, enquanto progressistas recebem tratamento mais simpático.
- Falta de Subtileza: O filme às vezes exagera na trilha sonora e no tom, sacrificando nuances por impacto.
- Questões Éticas: A representação de escândalos, como um cardeal com um passado controverso, pode ser vista como sensacionalista ou desrespeitosa.
O que Faz o Tema Cativar
O Conclave fascina porque desnuda o lado humano de uma instituição milenar. Ele mostra cardeais fofocando, fumando vape e negociando votos, o que é ao mesmo tempo chocante e relatable. A ideia de que até o Vaticano é palco de intrigas políticas ressoa em um mundo polarizado, onde poder e idealismo raramente andam juntos. Além disso, o filme provoca reflexões profundas: o que significa liderar com dúvida? Como conciliar tradição com mudança? Essas questões, aliadas a um final ousado que gerou debates acalorados, tornam O Conclave inesquecível.
Vale a Pena Assistir?
O Conclave (agora no Prime Video) é um triunfo cinematográfico que combina suspense, drama e reflexões filosóficas em um pacote visualmente arrebatador. Ele não é perfeito — suas caricaturas e excessos podem irritar, especialmente os fiéis que veem a Igreja retratada de forma sensacionalista. Ainda assim, é impossível negar o poder de suas atuações, a inteligência de seu roteiro e a beleza de sua execução. Se você gosta de thrillers políticos, aprecia um bom debate sobre fé e poder, ou apenas quer ver Ralph Fiennes em seu melhor, O Conclave é uma experiência imperdível.
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