No silêncio que antecede a Semana Santa, somos convidados a mergulhar no coração da fé cristã: a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. No Domingo de Ramos, carregamos ramos que simbolizam vitória, mas também abrimos o coração para contemplar o Mistério do Amor que se entrega. Em 2025, acompanhamos esse mistério pelas palavras do evangelista Lucas (22,14–23,56) — e é através desse olhar que vamos entender, sentir e viver essa narrativa com profundidade.
O Cenáculo: O amor que parte o pão
A narrativa começa com a Última Ceia. Jesus, reunido com os apóstolos, revela o desejo ardente de celebrar a Páscoa com eles antes de sofrer. Lucas destaca esse momento com ternura:
“Desejei ardentemente comer convosco esta ceia pascal antes de sofrer.”
Nesse gesto de partir o pão e oferecer o cálice, Ele não apenas antecipa o sacrifício da cruz, mas institui a Eucaristia — um presente eterno de Sua presença viva entre nós. Lucas nos convida a reconhecer o amor de Jesus que se faz alimento. Aqui, o altar e o Calvário se encontram.
A agonia no Monte das Oliveiras: A oração que sangra
Diferente dos outros evangelistas, Lucas nos apresenta um Jesus que, mesmo em profunda agonia, escolhe rezar com confiança filial. Ele sua sangue, sim, mas continua unido ao Pai.
“Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, mas a tua.”
Esse momento nos ensina que até mesmo o Filho de Deus enfrentou o medo e o sofrimento — mas o fez com entrega. Não é um fracasso. É a vitória do amor obediente.
O beijo da traição: A dor que conhece o abandono
A cena do beijo de Judas ganha ainda mais força na narrativa de Lucas. Jesus o interpela com uma pergunta pungente:
“Judas, com um beijo entregas o Filho do Homem?”
É o amor traído, e mesmo assim, Jesus não reage com violência. O contraste entre a ternura do beijo e a dureza da traição nos mostra como o pecado pode se disfarçar de gestos aparentemente afetuosos. E mesmo assim, o amor não recua.
O julgamento: O inocente entre os homens
Lucas destaca a injustiça do julgamento de Jesus. Pilatos declara:
“Não encontrei neste homem nenhum motivo de condenação.”
Mesmo assim, o povo clama por sua morte. A multidão, que antes acolheu Jesus com ramos, agora se torna cega pela manipulação e pelo medo. Esse trecho é um espelho para nossas próprias ambiguidades: quantas vezes, por conveniência ou omissão, gritamos “crucifica-o” com nossas escolhas?
O caminho do Calvário: O sofrimento que toca corações
Somente Lucas nos traz o episódio das mulheres que choram por Jesus. Ele se volta a elas com compaixão e um aviso profético:
“Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai por vós mesmas e por vossos filhos.”
Mesmo no caminho da dor, Jesus não se fecha em si mesmo. Ele continua a amar e ensinar. Ainda há espaço para conversão.
O bom ladrão: A esperança pendurada na cruz
Esse é um dos momentos mais belos do Evangelho de Lucas. Enquanto muitos zombam de Jesus, um dos crucificados ao seu lado reconhece sua inocência e suplica:
“Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino.”
E Jesus responde com ternura absoluta:
“Hoje estarás comigo no paraíso.”
Aqui, temos a promessa do Céu. O ladrão não teve tempo de fazer boas obras, não participou de cerimônias. Mas teve um coração arrependido e cheio de fé. Isso basta para Deus.
A morte de Jesus: O grito do amor até o fim
A cena da morte de Jesus em Lucas é marcada por um gesto profundo: Ele entrega seu espírito dizendo:
“Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.”
O centurião, um pagão, reconhece:
“Este homem era justo.”
E o povo volta batendo no peito. O silêncio se faz. A terra treme. O véu do Templo se rasga. O Amor foi crucificado — mas a última palavra ainda não foi dita.
O sepultamento: O descanso da esperança
Lucas encerra com o cuidado de José de Arimateia, que envolve o corpo de Jesus e o coloca num túmulo novo. As mulheres observam, preparam aromas, mas esperam o sábado passar. Há um suspense sagrado. Uma espera fecunda. Algo está prestes a acontecer.
Viver a Paixão com os olhos de Lucas
Lucas nos apresenta um Cristo que ama até o fim, que perdoa no momento da maior dor, que permanece sereno diante da injustiça. Um Jesus profundamente humano e totalmente divino.
Esse Evangelho não quer apenas ser lido: quer ser vivido. E a melhor forma de fazê-lo é abrir espaço em nosso coração para contemplar cada cena com sinceridade. Durante essa Semana Santa, reserve momentos de silêncio. Medite a Paixão. Reze diante do crucifixo. Pergunte-se:
- Eu reconheço o Corpo de Cristo na Eucaristia como aquele que foi partido por mim?
- Tenho traído o Senhor com pequenos gestos de omissão ou desamor?
- Sou como o bom ladrão, que mesmo ferido, ainda tem fé e confiança?
A cada resposta, a cada lágrima que cai diante da cruz, nasce algo novo dentro de nós. E a Paixão deixa de ser apenas história — torna-se um encontro pessoal.
Que neste Domingo de Ramos, com nossos ramos nas mãos e a Palavra no coração, possamos caminhar com Jesus. Do Cenáculo ao Calvário, Ele nos ama. Do altar ao túmulo, Ele nos salva. E no terceiro dia…
A vida renasce!
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